sexta-feira, 25 de maio de 2007

Primeira no Brasil


Jornais têm um ritmo próprio. As vezes, de lentos, morosos e preguiçosos, passam a um frenético desespero quando algo acontece. Na verdade, quem mais gosta de fazer jornal adora esses momentos. Gosta da adrenalina de estar no centro dos acontecimentos, competindo com dezenas de outros profissionais para apurar a melhor informação, conseguir a melhor foto, de preferência a mais bem composta, mais bem iluminada, a que por mérito, sorte ou coincidência, se diferencia das outras pelo algo mais que atrae os olhos e o reconhecimento dos colegas.

Os patos novos - eu incluso - sempre têm aquela esperança de que o trabalho se sobresaia em meio aos feras. Todos trazem consigo aquela vontade de que a sua imagem seja a eleita, pelos colegas e por quem a vê, como a melhor, a digna de uma primeira página.

No entanto, boa parte dos dias, o trabalho em jornal é mais investimento, transpiração do que acontecimento. E é normalmente nestas horas que se tem de brigar para achar algo que permita elevar o assunto menos importante à categoria de primeira pagina. A foto abaixo é um exemplo modesto disso. Era uma saída para o Extra numa "matéria fria" sobre as escolas públicas no trajeto da antiga estrada Rio SP, no KM 34, em Nova Iguaçu. Falta de aulas, falta de professores. O menino - cujo nome eu não guardei - tinha saído da escola pública perto de sua casa por causa da falta de professores para sua série. A mãe conversava com a repórter e eu mexia com ele, apontava a câmera, brincava, ele ria, ria, até que ele ficou sério. Na hora, percebi o nome do CIEP por entre a grade e acertei velocidade e diafragma. Algumas chapas, mas só duas com a expressão que justificava a matéria. É o que os colegas chamam de "carpeta". Mas neste caso, eu chamo de "primeirinha".
Foto: Rafael Andrade / Agência O Globo

quinta-feira, 24 de maio de 2007

Silhuetas


Umas das coisas mais legais do fotojornalismo, além dos salários nababescos, das mordomias, das mulheres aos pés e do respeito profissional que se desfruta em qualquer lugar que se chega, é que a gente vai a lugares, vê e faz coisas que as outras pessoas têm pouca chance tem de conhecer. Ok, não é o caso da barca Rio-Paquetá, onde esta foto foi feita. Mas é questão de preferência. Fico muito feliz de chegar no jornal onde estou trabalhando e receber a notícia do repórter ou do editor que vamos à Paquetá. Ou ao Lixão de Gramaxo. Ou a Bangu 4. Essa chance de todo dia ir a um lugar diferente, ver pessoas que não têm o mesmo cotidiano que o meu, ser um estranho em lugares que não conheço, não ficar fechado dentro de um escritório enquanto a vida rola lá fora, me dá imensa alegria. Dá uma dimensão inacreditável ao mundo. Acaba com a idéia de que o buraco na rua do Leblon é assunto de primeira página. Porque embora o cliente tenha sempre razão, é importante mostrar que o último limite do município do Rio não é o aeroporto internacional.


Foto: Rafael Andrade / Agência O Globo

terça-feira, 22 de maio de 2007

Saldos e Balanços


Quando eu era moleque, nas segundas-feiras supermercado abria depois das duas horas da tarde. Antes disso, era hora de saldos e balanços. As grandes lojas não abriam nos domingos e shopping seguia os famosos passos do criador: "e no sétimo dia ele descansou".

Numa quarta-feira qualquer, uma unidade da polícia civil "dominou" uma favela na zona norte do Rio e empreendeu uma operação durante boa parte do dia para recuperar motos e carros roubados. Mas o verdadeiro saldo da operação foi esta foto que o Extra publicou no dia seguinte.
Foto: Rafael Andrade / Agência O Globo