Tenho um camarada que sempre fala que o que ele realmente gosta é de nas grandes coberturas fazer aquela imagem que deixa todo mundo para trás. E acho que quase todo fotojornalista pensa assim.
Mas esta profissão se faz em geral de solidão, silêncios e paciência. As grandes coberturas não acontecem todos os dias, nem se participa de todas que estão rolando. Boa parte do tempo trabalhamos sem coleguinhas e competição em cima de um assunto. Nessa hora, tem uma qualidade que um bom profissional deve fazer aparecer. É o que alguns chamam de "trazer a foto". É a capacidade de num "vôo solo" trazer para a redação aquela imagem que não é esperada. Aquelas fotos que surpreendem porque ninguém achou que o que você estava fazendo ia dar em algo.
Essa capacidade se desenvolve com o tempo, mas requer sobretudo a concentração, paciência e devoção ao que se faz. Nas grandes coberturas é uma capacidade pouco desenvolvida porque em geral há um clima de competitividade e tensão causado pelo assunto e pela quantidade de coleguinhas envolvidos, que além de inibir, mantém o pato novo sempre de olho na água.
Gosto muito desta foto que posto agora. Porque faz parte de uma operação de recolhimento de menores que a gente pôde acompanhar e que deu um bom resultado em termos de imagem. É aquele dia onde nem você acredita nas fotos que fez. É nestas horas que você chega na redação e o chefe te dá aquele tapinha nas costas, sorri e te fala: "então, tem um bonequinho ali em madureira para economia duas horas depois do fim do teu horário... Faz lá prá gente..."