Um chefe que eu tive há algum tempo dizia que quando ele era fotógrafo, seu editor falava que o bom fotojornalista era como uma águia. Sobrevoava a cena, ou o lugar onde a notícia estava acontecendo, e conseguia ver um pouco de cada coisa, produzindo fotos variadas que mostram o maior número de situações daquele assunto. O meu chefe dizia o que seu chefe dizia. E eu aprendi que nesta profissão antiguidade realmente é posto.
Apesar de achar a comparação com uma águia um pouco imprecisa, acho que muitas vezes, principalmente quando se é muito novo e inseguro, concentramo-nos demais em determinado aspecto de uma cobertuta porque aquela visão parece mais familiarmente jornalística. Parece ser a notícia mais clara. Muitas vezes não é. Erros de julgamento acontecem. Bastante. E muitas vezes no "calor da ação" temos dificuldade em discernir o que acontece, ou mesmo, ver de forma diferente o que está na frente dos olhos. Nariz de cera a parte, a foto abaixo é só porque sempre que estou na rua lembro do que dizia esse meu chefe.
No feriado de Corpus Christi fui a Niterói pelo Extra para cobrir um assunto e acabei na Amaral Peixoto onde fazem esses tapetes de sal. Depois fazer um registro, lembrei dessa comparação com a águia. E entrei no terceiro andar de uma delegacia para fazer um vôo sobre o assunto. A foto infelizmente não foi publicada. Ossos do Ofício. Voar pode te dar muitas opções, mas entre fotografar e publicar vai uma distância quem muitas vezes nem a águia é capaz de transpor...
Foto: Rafael Andrade / Agência O Globo