quinta-feira, 16 de agosto de 2007

No Photo

De uns tempos para cá, por conselho de um amigaço meu, decidi postar as fotos com o menor volume de texto possível. O argumento dele é que este era um blog de foto, não um blog de texto. Ótimo argumento. Mas eu confesso que quando comecei o dezesseistrintaecinco pensava que seria uma forma de celebrar algumas coisas. O fato de começar a fotografar para a Folha, que é um jornal que sempre me atraiu pela coragem na edição de fotos, dos textos, da diagramação. Enfim, pela cara da FolhaSP.

Outro motivo era o volume de fotos novas que muitos dos meus amigos não viam por causa da durabilidade do jornal. De manhã na mão do chefe da família, as duas da tarde, no fundo da gaiola do passarinho. Ou seja, queria que as pessoas vissem o que eu estava fazendo, queria que as fotos tivessem mais duração do que a página do jornal. E também queria ter o compromisso de fazer mais e melhor com a obrigalção de toda semana, ou sempre que desse, publicar alguma foto legal.

Mas hoje eu quebro duas normas minhas. A primeira sempre publicar uma foto. A segunda, esta mais nova, de escrever o menos possível.

Foi um dia atípico. Estou em Campos, no norte do estado do Rio, e vim aqui para fotografar a inauguracao de uma sala de aula pelo Lula. Ironia, ou não, hoje a foto não era o presidente. A foto era um protesto que durou instantes durante o discurso do Sergio Cabral, de uns estudantes que usaram uns narizes de palhaço. Que eu não fotografei. Que eu Não Vi. Errei, me posicionei mal, não olhei, e avaliei mal o que acontecia. Me concentrei demais no menos importante, o que acontecia no palco montado pelo governo, do que na notícia. Mas sobretudo, reconheço, não me posicionei junto aos coleguinhas.

Essa postura, de tentar ficar do outro lado tem sido uma constante de uns tempos para cá no meu dia a dia. Tenho tentado me posicionar em outro lugar, ver as coisas de uma outra forma, olhar pelo lado onde não estão os coleguinhas. Claro, com alguma atenção ao objetivo da cobertura. E sempre tentando fazer o feijão com arroz.

Isso em geral não causa problemas. Na verdade, é um exercício interessante. Mas não permite que você saiba o que os colegas estão vendo e sobretudo fotografando. Quando seus colegas são muito mais experientes que você, acredite, camarada, isso faz toda a diferença. Hoje fez com que eu não fizesse a foto mais importante na hierarquia dos assuntos da cobertura, no caso, a do protesto dos estudantes que o Lula rechaçou com ajuda do Cabral em seu discurso. Como eu sempre digo, é batom na cueca, não tem desculpa. Foto não é processo, é resultado.

Um outro problema, que não é desculpa, nem justifica ou explica, mas ajuda a entender o que aconteceu, foi o fato de eu ter vindo para cá sem a menor idéia do que ia acontecer. Fotojornalismo não é apenas prática, técnica, composição é também antecipação. Quanto mais informação se tem, mais fácil reagir e se preparar e fotografar. Como eu não fiz o dever de casa, acabei me estrepando duplamente. Não fiquei sabendo da foto que a presidência tinha marcado, e essa sim, que embora sem a menor importância, era feijão com arroz e obrigatoria.

Com isso, fiquei preso numa posição complicada, no meio das pessoas, com uma lente grande, em um barranco, sem equilibrio e com um monte de braços, cabeçae e fotógrafos que fazem fotos com a câmera longe do rosto, em vez de no lugar reservado a imprensa, além de obrigatoriamente longe dos coleguinhas,

Saldo final: 2 gb de fotos que não importam.
Esporro da chefia em SP. E não tenho nem cara prá ir trabalhar amanhã.

E por isso, hoje não tem foto.

2 comentários:

Hagen disse...

Tem dias que eh foda!!! Se grila nao que vc eh bom rapaz! E o teu texto mostra isso. Ta aprendendo a cada dia, seja nas cagadas ou com os ensinamentos dos mais antigos que vc vai conhecendo por ai.

E escreve menos nao. Alem excelente fotografo, vc tambem escreve bem pacas. E vc sabe que nao sou de fazer media ou puxar saco!

Abraco!

Fausto disse...

Não deixe de escrever, Rafael. Pelo contrário. Só esse desabafo seu, por exemplo, vale pelas fotos que você não publicou "hoje". Se tem o que dizer (e parece que tem, a julgar pelo que escreve aqui), então diga. Se a foto fala por si, que baste. Mas não exclua de antemão o texto.

Gostei da autocrítica. Mas não deixe de considerar que a idéia de ver as coisas por um ângulo diferente dos coleguinhas é o grande lance.

Parabéns pelo trabalho e um grande abraço!